domingo, 16 de agosto de 2015

A força que nos conduz

A INTERFERÊNCIA


"Entre nosso querer e nossos planos, intromete-se algo inesperado, forçando-nos a parar e a tomar uma direção imprevista.


O que se intromete de repente em nossos planos, embora tenhamos refletido cuidadosamente sobre cada um de seus passos e tomado todas as providências para seu sucesso?

Às vezes sacudimos a cabeça, pois subitamente algo interfere entre nós e nossos planos, por um lado, bloqueando-nos o caminho e, por outro, mostrando-nos e exigindo algo que não tínhamos levado em conta.

Nessas ocasiões, permanecemos conscientes? Ainda estamos em nossa consciência? Terá uma outra consciência interferindo com sabedoria, levando-nos a tomar uma outra direção?

Que espécie de consciência é essa? Poderá ser a nossa própria consciência, nossa estreita consciência? Nesse caso, não iria intrometer-se dessa maneira inesperada, em nossa decisão anterior e contra o que tinha funcionado anteriormente. Ela nos obriga a fazer um desvio que, por um lado, nos protege de algo que poderia trazer-nos risco e, por outro lado, nos mostra uma saída que assegura nossa sobrevivência e a sobrevivência de muitos que estavam e permanecem unidos conosco.

O que estou descrevendo aqui? Descrevo de que forma próxima e natural uma consciência que nos transcende interfere constantemente em nosso caminho de vida e o o determina.

Estamos atentos a essa interferência de fora, a essa interferência que salva vidas, por parte de um poder criador que nos transcende e que, como um cocheiro, puxa nossa rédeas e volta a soltá-las, sem que percebamos que carro estamos puxando e para onde? Nesse caso, continuamos simplesmente a trotar em frente? De vez em quando, voltamos a olhar para o cocheiro que segura nossas rédeas e talvez nos acene amigavelmente, mas que eventualmente puxa as rédeas fazendo-nos reconhecer quem é que manda e chamando-nos à ordem?

Podemos impor-nos contra essa consciência e contra a sua vontade? Mesmo que nosso olhar só alcance alguns passos à frente, esse cocheiro sabe para onde se dirige o caminho de nossa vida e, juntamente com ele, o caminho do mundo.

Como chegamos a uma sábia sintonia com esse cocheiro, a uma sábia concordância com suas rédeas? Ou será que, depois de algum tempo, ele nos deixa livres e nos detém apenas por meio de um acordo tácito, com um piscar de olhos?

O que acontece, porém, quando o caminho se torna pedregoso, ou quando margeia um abismo? Olhamos então ansiosos pra trás e aguardamos que o cocheiro tome as rédeas firmemente nas mãos?

Enquanto somos assim controlados por ele, podemos alguma vez olhar para trás, ou sempre nos resta apenas o caminho em frente?

O que se segue desses pensamentos e dessa observação?

Vivemos constantemente numa outra consciência. Somos constantemente levados por ela, pela mão e pelas rédeas. Vivenciamos constantemente seus cuidados e sua disciplina.

Essa outra consciência também percebe a nossa dedicação? Percebe nossa entrega e nossa cega confiança? Entramos e permanecemos em sintonia com ela, mesmo quando nos conduz por caminhos que nos amedrontam, quando puxamos seu carro por caminhos que ninguém mais percorre ao nosso lado ou à nossa frente? Somente assim nos purificamos de nossa consciência egoísta. Depois de algum tempo, olhamos para o infinitamente distante, que nos seduz e ao mesmo tempo nos exige o máximo: um conhecimento ousado e uma ação ousada.

Onde ficamos então, com nossa estreiteza? Onde, com nossos medos e preocupações?

Sentimo-nos levados a um outro conhecimento e a uma outra ação, superando nosso conhecimento anterior e suas possibilidades. Frequentemente, somos levados a formas solitárias de conhecimento e de ação; não obstante, em concordância com um poder criador, que cuida igualmente de todos. Em concordância e em paz com ele."

Bert Hellinger (2015), "As igrejas e os seus deuses", p. 90