sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O Destino

O DESTINO


Chamamos de “destino” as forças que, a partir do passado, vinculam-nos necessariamente aos efeitos, bons ou maus, de acontecimentos. Esses efeitos nos são “destinados”, independentemente de nossa vontade. Por outro lado estamos sujeitos a uma “sorte”, isto é, a acontecimentos que nos atingem casualmente, sem que possamos escapar.
Não temos nenhuma possibilidade de interferir retroativamente naquilo que nos atinge por acaso ou como efeito necessário de um passado. Apenas no que toca ao futuro dispomos de uma certa liberdade de ação, na medida em que lidamos com o destino e podemos abrir-nos a mudanças.

As forças do destino, tais como as encontramos nas notícias dos jornais, na literatura, nos filmes e na televisão nos aparecem nas constelações como uma história pessoal. Vivenciamos dolorosamente quão pouco livres nós somos e percebemos que, sem o nosso conhecimento ou vontade, revivemos, numa espécie de repetição compulsiva, destinos passados, ocorrências funestas e problemas existenciais não resolvidos. As constelações mostram-se particularmente eficazes quando sentimos estar revivendo, sem necessidade própria, necessidades passadas e não pacificadas de outras pessoas, como se através dessa repetição algo pudesse ser reparado e ficar em paz.

A constelação familiar voltou a abrir, no contexto da psicoterapia, um espaço maior à dimensão do destino. As grandes forças da alma, que vão muito além de nossa vontade e de nossas opiniões e que interferem em nossa vida, emergem de uma espécie de inconsciente coletivo e podem ser encaradas, honradas e acessadas num processo de abertura para algo novo.

A avó que morreu no parto; a filha cuja verdadeira origem a mãe ocultou do marido; o primeiro marido da mãe, morto na guerra; o desertor fuzilado pelo pai; a avó, com seus numerosos abortos; o médico, com seus erros profissionais; a emigração do primeiro marido da avó; a própria vida numa cultura estrangeira... - tudo isso são ocorrências ligadas ao destino que afetam, em muito, as gerações subsequentes. Em face de grandes embates políticos, sociais e militares, sentimos instintivamente o mesmo que disse o jornalista belga sobre a guerra colonial no Congo: “ Quantas gerações isso vai durar, até que se cure?”

“Emaranhamento” é uma das palavras mágicas que acompanham as constelações familiares. Constitui a matéria das tragédias e também das comédias. Às vezes, as constelações atuam como uma peça de teatro. De forma comprimida, dramas humanos são “encenados”, sempre como histórias especiais, referindo-se a determinados destinos familiares. Na antiga Grécia as peças teatrais eram dedicadas a Asclépio, o deus da cura. Quem presenciou Bert Hellinger abordando, diante de grandes públicos, temas relevantes como os destinos dos judeus e dos nazistas, os destinos das guerras europeias ou as situações de guerra civil na América do Sul pode perceber algo da dimensão coletiva da alma e do lado coletivo da cura.”

Schneider, J. (2007), A prática das Constelações Familiares, p. 11.