quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Perdoar nem sempre é o melhor a fazer


"Se alguém, em um relacionamento falar: 'Eu lhe perdoo', passa-se algo completamente diferente na alma. Quem diz 'Eu lhe perdoo' ao mesmo tempo culpa alguém de algo. Esse perdão verbalizado separa, não pode salvar um relacionamento, muito pelo contrário, destrói.


Existem ainda situações onde qualquer tipo de perdão é proibido, por exemplo, tratando-se de assassinato. Precisamos apenas imaginar: o que se passa na alma de um culpado quando espera que o perdoemos? No momento em que ele pede e espera por perdão, deixa de olhar para as vítimas. Ao invés de sentir e sofrer com elas por aquilo que lhes causou, olha para si próprio, quer ser aliviado de sua culpa sem assumir as consequências.

O que acontece com aqueles que estão dispostos a lhe dizer: 'Eu lhe perdoo'? O que fazem através dessas palavras? Será que tem o direito de agir dessa maneira? A quem compete dar esse perdão? Quem disser algo assim posiciona-se ao lado de um poder maior ou até acima dele, como se pudesse decretar a culpa ou a inocência ou, em última instância, a vida e a morte.

Quando o perdão não é esperado e concedido, a grandeza daquilo que ocorreu permanece intocada. O culpado mantém sua dignidade na medida em que não espera por perdão e nós respeitamos sua dignidade, na medida em que não o perdoamos. Ele está entregue a algo maior. Nenhum ser humano pode interferir.

Mais um ponto está ligado a esse tipo de situação. Uma grande culpa dá força quando a assumimos e concordamos com suas consequências. Concede ao culpado a força de realizar algo que os inocentes nunca seriam capazes de realizar, por não terem essa força. Portanto, também precisamos olhar para a culpa nesse contexto maior.

Mesmo assim, de certa maneira, podemos nos voltar para aqueles que não podem mais esperar por perdão. Como? Através da benevolência.

O que é benevolência? É um movimento do coração e da alma, frente a um sofrimento e uma culpa que não podem ser eliminados. Na benevolência somos iguais aos outros. Concordamos com a impotência que os envolve e também nos sentimos impotentes. Aquele que é benevolente não julga e não perdoa, nem um nem outro. Ele apenas está presente e não se coloca acima de ninguém.

O que disse aqui sobre perdão, sobre a negação do perdão e sobre a benevolência, em princípio, disse sobre o amor. Trata-se, porém, de um amor especial, que está além e acima do amor que ainda exige algo."

Bert Hellinger (2011), em Histórias de amor, pág.47