Existem ainda situações onde qualquer tipo de perdão é proibido, por exemplo, tratando-se de assassinato. Precisamos apenas imaginar: o que se passa na alma de um culpado quando espera que o perdoemos? No momento em que ele pede e espera por perdão, deixa de olhar para as vítimas. Ao invés de sentir e sofrer com elas por aquilo que lhes causou, olha para si próprio, quer ser aliviado de sua culpa sem assumir as consequências.
O que acontece com aqueles que estão dispostos a lhe dizer: 'Eu lhe perdoo'? O que fazem através dessas palavras? Será que tem o direito de agir dessa maneira? A quem compete dar esse perdão? Quem disser algo assim posiciona-se ao lado de um poder maior ou até acima dele, como se pudesse decretar a culpa ou a inocência ou, em última instância, a vida e a morte.
Quando o perdão não é esperado e concedido, a grandeza daquilo que ocorreu permanece intocada. O culpado mantém sua dignidade na medida em que não espera por perdão e nós respeitamos sua dignidade, na medida em que não o perdoamos. Ele está entregue a algo maior. Nenhum ser humano pode interferir.
Mais um ponto está ligado a esse tipo de situação. Uma grande culpa dá força quando a assumimos e concordamos com suas consequências. Concede ao culpado a força de realizar algo que os inocentes nunca seriam capazes de realizar, por não terem essa força. Portanto, também precisamos olhar para a culpa nesse contexto maior.
Mesmo assim, de certa maneira, podemos nos voltar para aqueles que não podem mais esperar por perdão. Como? Através da benevolência.
O que é benevolência? É um movimento do coração e da alma, frente a um sofrimento e uma culpa que não podem ser eliminados. Na benevolência somos iguais aos outros. Concordamos com a impotência que os envolve e também nos sentimos impotentes. Aquele que é benevolente não julga e não perdoa, nem um nem outro. Ele apenas está presente e não se coloca acima de ninguém.
O que disse aqui sobre perdão, sobre a negação do perdão e sobre a benevolência, em princípio, disse sobre o amor. Trata-se, porém, de um amor especial, que está além e acima do amor que ainda exige algo."
Bert Hellinger (2011), em Histórias de amor, pág.47